quinta-feira, 12 de novembro de 2009

maternidade: bem vinda à fase 2 do jogo

Retirei esse post do blog mãe pagãs que sigo, simplesmente amei! Repasso com os créditos à autora

Maternidade: bem vinda à fase 2 do jogo


Author: eu sou anfibia


Penso que nada se compara à maternidade enquanto oportunidade para a mulher se desvincular dos modelos femininos únicos ou padrões sociais de independência e beleza, por exemplo.A maternidade empurra a mulher a se distanciar um pouco dos arquétipos ártemis/atena (solteiras lindas, durinhas, bem sucedidas e independentes) já bem assimilados pela sociedade capitalista/ patriarcal, por força de sua própria necessidade de partilhar os ofícios maternos. a maternidade é uma porta aberta para que a mulher desenvolva conceitos maiores de coletividade e solidariedade, pois modifica a forma como a mulher lida com dinheiro, modifica sua disponibilidade para ser produtiva numa sociedade capitalista, e desperta necessidades que não passam por nenhuma loja de shopping, profissão ou sala de aula.



A maternidade trabalha conexões com as mulheres da família ou arquétipos femininos de mães e avós; facilita o contato com as heranças psíquicas e a mulher se posiciona mais claramente diante de valores e crenças. a mãe faz uma leitura de mundo para dar à sua criança. ela faz um retrato, uma síntese de si mesma amalgamada com o mundo, e é basicamente isso que estão perdendo as mulheres que são tristemente forçadas a colocarem seus bebês de quatro meses na creche o dia inteiro para voltarem ao trabalho, consoladas pela idéia ilusória de 'tempo de qualidade' com a criança. a forma capitalista de lidar com a maternidade, desempodera (pra usar um termo atual) a mulher de sua função mais crucial que é a de legislar (vetar, aprovar, modificar) o mundo, através da sua mediação ativa e constante entre este mundo e sua criança.



Minha experiência ao me tornar mãe, foi similar à de perséfone descendo ao mundo avernal. eu estava lá, funcionando no mundo externo, trabalhando, morando sozinha. mas procurava um amor, com a mais pura das intenções, como perséfone procurando uma flor branca pra cheirar nos campos ensolarados. então o chão se abriu e encontrei bem mais do que estava desejando! engravidar e me tornar mãe me empurrou imediatamente para um gueto social, para uma situação de desprestígio e isolamento que foi o maior impacto da minha vida. o bonito é que, como no mito, minha descida aos infernos pôde frutificar; não fiquei lá chorando o status derramado. e agora estou aqui, desse outro lado, encontrando pessoas que, como eu, descobriram que existe vida após o patriarcado, além dos empregos de 80 horas semanais, e além do universo que as revistas Nova ou Claudia ousam retratar.



Estudando a história do mehndi, a belíssima pintura corporal de henna retratada acima, encontrei relatos de culturas onde a mulher é pintada no pós parto e por causa disso não pode fazer tarefas domésticas ou cuidar das outras crianças, mobilizando assim todas as mulheres da comunidade em torno de si durante esse período. a pintura significa resguardo físico e energético para um pós parto onde a mulher recebe ajuda e é protegida por outras mulheres, para iniciar essa nova fase. já eu, aqui no avançadíssimo ocidente, tive que ouvir um sermão dos meus tios falando pra deixar meu menino chorando enquanto eu almoçava, pra ele aprender a respeitar meus horários! um ótimo conselho, mas que me pareceu uma diretriz absurda para lidar com um bebê que tinha nascido no dia anterior... um pouco de sorte, e a nova mãe logo percebe que se der ouvidos aos homens em volta, vai fazer besteira.




A mãe aprende a ouvir ela mesma independente da opinião dos outros, mesmo que esteja sem nenhuma razão aparente. nesse aspecto a maternidade se assemelha a um treino de guerrilha, de resistência, de respeitar o sentido que apenas ela vê. por isso é essencial que as mães se encontrem, se ajudem, criem uma rede de suporte privada, isto é - fora das convenções sociais, fora dos valores que o patriarcado nos ensina. nosso valor como mãe não está dado pelo mundo - nós mesmas é que o descobrimos no segredo do nosso ventre e do nosso coração.

Um comentário:

  1. Olá Eduarda, esse texto é uma blogagem coletiva, participe, blog, peque o selo e principalmente ajude se puder.
    http://homeopatiaparamulheres.blogspot.com/2011/06/criancas-adolescentes-os-pais-e.html

    Homeopatas dos Pés Descalços

    ResponderExcluir